Plácido Soares de Moura (2020) Aprimoramento do cultivo do camarão marinho Litopenaeus vannamei em águas oligohalinas dominadas por bioflocos

Aprimoramento do cultivo do camarão marinho Litopenaeus vannamei em águas oligohalinas dominadas por bioflocos

Autor: Plácido Soares de Moura (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Luis Henrique da Silva Poersch
Co-orientador: Dr Wilson Francisco Britto Wasielesky Junior

Resumo

A produção de L. vannamei em águas oligohalinas interiores (AOI) no Brasil está concentrada na região Nordeste, onde a composição iônica da água é considerada na escolha de áreas de cultivo e no gerenciamento dos recursos hídricos escassos na região. Águas interiores e marinhas apresentam composições distintas, podendo afetar processos fisiológicos de camarões marinhos e a produtividade dos cultivos, principalmente nas fases iniciais onde ocorre a aclimatação dos animais às condições das águas interiores. A correção constante da alcalinidade requer a utilização de compostos alcalinizantes adequados às condições dos sistemas de produção. No capítulo I foi realizado um levantamento bibliográfico acerca do cultivo de L. vannamei em AOIs e foi demonstrada a aplicabilidade de sistemas de cultivo fechados como forma de reduzir as demandas de água em regiões semiáridas, aumentar as produtividades dos cultivos e promover o desenvolvimento socioeconômico dessas regiões. O capítulo II avaliou as características da produção de L. vannamei em AOIs no Nordeste brasileiro, no intuito de direcionar a prospecção de novas áreas. Os dados foram coletados nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, totalizando 28 fazendas. As amostras de água foram classificadas por salinidade segundo o Sistema Veneza, em águas doces, oligohalinas e mesohalinas e as composições iônicas e os dados produtivos das propriedades comparados. Através da salinidade, condutividade elétrica (CE) e composição iônica, foram avaliados os usos das águas para irrigação e consumo humano. A maioria das propriedades foram fornecidas com águas oligohalinas e mesohalinas de rios ou poços, onde 78% delas foram consideradas impróprias para irrigação. A área média dos viveiros foi de 1,30 ± 1,08 ha. As amostras quando comparadas a água do mar diluída, demonstraram que o Na+ e SO42-, estavam em menor proporção (%), enquanto que o Mg , Ca e o HCO3 estavam em maior proporção, independente da classe salina. As relações iônicas, Mg2+:Ca2+ e K+:Ca2+ estavam abaixo das ideais em todas as classes, enquanto que a Na+:K+ nas águas oligohalinas estavam em média adequadas para a espécie. Águas oligohalinas e mesohalinas são mais favoráveis a carcinocultura, por possuírem menos usos. Além disso, essas águas possuem alcalinidades e durezas totais superiores a águas doces podendo nelas serem alcançadas maiores produtividades. Através dos dados do capítulo II foi formulada uma salga artificial representativa das fazendas investigadas, chamada de Composição Iônica de Baixa Salinidade (CIBS). Nos capítulos III e IV antes dos experimentos as águas com a CIBS foram fertilizadas com NH4Cl para desenvolver um inóculo bacteriano. Os experimentos foram realizados na fase de berçário em meio oligohalino dominado por bioflocos. As pós-larvas foram alimentadas com dietas comerciais. Monitoraram-se a temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido, compostos nitrogenados (N-AT, N-NO2- e N-NO3-), ortofosfato, alcalinidade total (AT), dureza total (DT), salinidade, CE, sólidos suspensos totais e a concentração dos íons majoritários. O desempenho zootécnico foi avaliado através do peso médio final, sobrevivência, taxa de crescimento específico, ganho de peso semanal, produtividade e conversão alimentar aparente. O capítulo III utilizou a inoculação de águas marinhas para a correção iônica da água com a CIBS. O estudo durou 27 dias onde foram utilizados 20 tanques de 150L úteis, com 150 pós-larvas de 0,06g cada. Foram testados quatro tratamentos com inoculação (3, 6, 10 e 13%) e um tratamento sem (0%), com quatro repetições cada. Entre os compostos nitrogenados apenas o N-NO3- atingiu concentrações acima do seguro em todos os tratamentos. O desempenho zootécnico foi superior nos tratamentos inoculados, não diferindo entre si. Os resultados estão associados ao incremento dos íons Na+, Mg2+ +++ e K e da relação Na :K . Foi observado que 3% do inóculo marinho pode mitigar os efeitos negativos de desequilíbrios iônicos de águas oligohalinas no desenvolvimento de PLs de L. vannamei. O capítulo IV avaliou os efeitos da alcalinidade e do alcalinizante utilizado, na composição iônica da água e no desempenho zootécnico de L. vannamei. O estudo durou 40 dias e foi desenvolvido em águas com a CIBS com 0,5% de uma salmoura marinha. Os tratamentos testaram a cal hidratada ou o bicarbonato de sódio (NaHCO3)na manutenção das AT de 75, 150 e 300 mg de CaCO3L,com três repetições cada, para isso foram utilizados 18 tanques de 50 litros povoados com 60 pós-larvas de L. vannamei com peso médio de 0,02g. Entre os compostos nitrogenados, apenas o N- - 2+ NO3 atingiu valores inadequados em todos os tratamentos. A DT e Mg foram maiores onde a AT de 300 mg CaCO3 L-1 de foi mantida com cal hidratada (Ca300), bem como a sobrevivência dos animais e a produtividade do sistema. A utilização de cal hidratada na maior concentração elevou além da AT a DT, protegendo os animais dos efeitos tóxicos - 2+ do N-NO3, compensando a remoção do Ca da água pelos animais durante a muda e assim gerando condições adequadas para o desenvolvimento de L. vannamei na fase de berçário em meio oligohalino dominado por bioflocos.

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