Lisiane Barcelos da Silva (2006) Desenvolvimento embrionário, descrição e cultivo de paralarvas do polvo comum (Octopus vulgaris) da costa sul do Brasil

Desenvolvimento embrionário, descrição e cultivo de paralarvas do polvo comum (Octopus vulgaris) da costa sul do Brasil

Autor: Lisiane Barcelos da Silva (Currículo Lattes)
Orientador: Dra Érica Vidal

Resumo

Existe uma grande carência de informações sobre as necessidades físicas e comportamentais das paralarvas, bem como de suas preferências alimentares, o que dificulta a sua manutenção em laboratório. Estudos que contribuam para verificar os fatores que afetam a sobrevivência das paralarvas durante a larvicultura e para um maior conhecimento das fases iniciais de desenvolvimento, biologia e ecologia das paralarvas do polvo comum da costa sul do Brasil, são necessários para o desenvolvimento de protocolos experimentais para o cultivo. Para avaliar as fases iniciais de desenvolvimento do polvo comum, estimativas da taxa de absorção de vitelo, peso úmido e seco, peso orgânico e inorgânico, foram obtidos de ovos incubados a 24 ± 1° C, a cada 48 horas ao longo do desenvolvimento embrionário. Após a eclosão as paralarvas foram separadas em dois grupos, inanição a 19° C e inanição a 24° C, para avaliar a importância do conteúdo de vitelo no potencial de sobrevivência das mesmas durante a larvicultura. Os resultados indicam que a perda de biomassa do embrião foi relativamente baixa, pois houve uma redução de apenas 12 % no peso orgânico dos ovos, sugerindo que o vitelo tenha sido convertido com eficiência em massa corpórea na temperatura de incubação escolhida. A reserva de vitelo representou de 20 a 32 % do peso úmido do corpo das paralarvas na eclosão, permitindo que as mesmas sobrevivessem até 8 dias a 19° C e até 10 dias a 24° C quando em inanição. Porém, taxas de sobrevivência acima de 70 % foram registradas no Dia 5 para paralarvas mantidas a 19° C e no Dia 3 a 24° C. Estes resultados indicam que maiores taxas de mortalidade foram registradas anteriormente para paralarvas mantidas a 24° C, devido às maiores taxas metabólicas, resultando na absorção de vitelo mais rápida. Existem evidências que o polvo comum seja membro de um complexo de espécies crípticas. Assim, a descrição morfológica de paralarvas da costa sul do Brasil e comparação do padrão de cromatóforos entre paralarvas da costa sul do Brasil e do noroeste do Atlântico (Vigo, Espanha) foram realizadas. Os ovos e paralarvas de ambas as localidades foram incubados e mantidos à temperaturas de 20°C ± 2°C. Foram observadas diferenças importantes entre o padrão de cromatóforos das paralarvas de ambas localidades, principalmente na região ventral do manto e da cabeça. Porém, para avaliar em que grau estas diferenças possam estar envolvidas na complexidade da posição taxonômica da espécie, seria ainda necessário o suporte de genética molecular. Um fator que tem contribuído para o aumento das taxas de mortalidade das paralarvas está relacionado às inadequadas condições físicas dos sistemas de cultivo, sendo observadas lesões nos braços das paralarvas mantidas em tanques circulares de 96 L. Com o objetivo de reduzir estas lesões 3 configurações internas de tanques de cultivo e hidrodinâmica foram testadas. Análises histológicas de braços normais e lesionados das paralarvas foram realizadas para caracterizar e identificar a causa destas lesões. Paralarvas mantidas em tanques com corrente circular e com idades de 20, 24 e 30 dias (d) apresentaram perda de ventosas e diminuição ou ausência dos OK. As paralarvas com idade de 15 d mantidas em tanques com corrente ascendente apresentaram uma estrutura nodular que indicou o início do processo abrasivo. Paralarvas de 24 d mantidas em tanques com correntes convergentes verticais não apresentaram danos epiteliais, representando a melhor hidrodinâmica testada. Os resultados indicam que as lesões são físicas, e que podem ser reduzidas através da remodelagem da configuração interna dos tanques e hidrodinâmica. Portanto, isto evidencia que a hidrodinâmica é uma das causas de mortalidade das paralarvas durante o cultivo, a qual ainda não havia sido observada anteriormente. Assim, o contato das paralarvas com as paredes deve ser evitado sempre que possível.

TEXTO COMPLETO