Cultivo da microalga marinha Nannochloropsis oculata em efluente da produção de camarão em sistema BFT
Autor: Camila Besold (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Paulo Cesar Oliveira Vergne de Abreu
Resumo
A produção massiva de microalgas está limitada por vários aspectos técnicos, dentre estes destaca-se a necessidade de meios de cultivo mais baratos. Efluentes da aquicultura, que contém altas concentrações de nutrientes podem ser uma alternativa mais econômica aos meios de cultivos convencionais. O objetivo desse estudo foi utilizar o efluente da produção de camarão em meio com bioflocos (sistema BFT - Biofloc Technology System) como um meio de cultivo para a microalga marinha Nannochloropsis oculata. Em um primeiro experimento, laboratorial verificou-se o crescimento da microalga em diferentes concentrações do efluente integral (25, 50, 75 e 100%). No segundo experimento realizado em estufa agrícola, num volume de 5L, em condições ambientais cultivou-se a microalga no efluente integral e comparou-se com os meios f/2 e um meio com fertilizantes químicos. Os dois experimentos foram realizados em triplicata e os dados submetidos à análise para verificação de diferenças estatísticas pelo teste ANOVA (one way) e posterior teste de Tukey (p<0,05). Os resultados do primeiro experimento demonstraram que os maiores crescimentos celulares ocorreram nos tratamentos com 75% (219±34,4 céls. x 106 mL-1) e 100% (192,4±27,7 céls. x 106 mL-1). Estes foram significativamente maiores do que os demais tratamentos, mas semelhantes entre si. No segundo experimento, a máxima abundância celular foi registrada no tratamento com meio BFT (T-BFT: 25,57±0,17 céls. x 106 mL-1), porém não houve diferença estatística dos demais. A maior porcentagem de lipídios foi registrada no tratamento com bioflocos (34,76±5,8%), mas da mesma forma este resultado não diferiu estatisticamente dos demais tratamentos. Diferenças no perfil dos ácidos graxos foram detectadas entre os tratamentos BFT e fertilizante, com maiores percentuais dos ácidos graxos C18:1t, C18:1c e C18:2 no tratamento BFT, possivelmente devido às diferentes fontes de nitrogênio nos meios. N. oculata removeu 27,95 mg L-1 de nitrato e 4,78 mg L-1 do fosfato em doze dias de experimento. A redução do nitrogênio amoniacal ao final do cultivo parece ter resultado principalmente da ação de bactérias nitrificantes presentes no tratamento BFT. Concluise que o efluente BFT puro pode ser usado como um meio para o cultivo massivo de N. oculata, produzindo as mesmas biomassas, quantidades de lipídios e composição de ácidos graxos que os outros meios normalmente utilizados. Além disso, o crescimento vi desta microalga neste meio removeu grande quantidade de nutrientes que podem causar eutrofização do corpo d’água receptor e do próprio sistema de aquicultura com bioflocos, demonstrando a grande capacidade de depuração de efluentes de N. oculata.