William Bauer (2015) Efluentes da carcinocultura e seus efeitos sobre o sistema estuarino da Lagoa dos Patos

Efluentes da carcinocultura e seus efeitos sobre o sistema estuarino da Lagoa dos Patos

Autor: William Bauer (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Luis Henrique da Silva Poersch

Resumo

A aquicultura é o setor de produção de alimentos de origem animal que mais cresce no mundo. A carcinocultura, como parte desse setor, tem gerado diversos benefícios em termos sócio-econômicos, mas também tem gerado uma atenção especial aos aspectos ambientais envolvidos com a atividade. A produção em cativeiro do camarão branco do Pacífico Litopenaeus vannamei vem se consolidando cada vez mais no entorno do estuário da Lagoa dos Patos, região sul do Brasil. Esse estuário possui importância ecológica, industrial, portuária, agrícola e pesqueira, o que torna necessário a compreensão do potencial impacto poluidor da atividade nessa região. Nesse estudo, parâmetros de qualidade da água, composição e abundância do fitoplâncton, protozooplâncton, mesozooplâncton e macrozoobentos foram avaliados espaço- temporalmente no corpo d`água receptor dos efluentes de uma fazenda produtora de camarões da espécie Litopenaeus vannamei localizada as margens do estuário da Lagoa dos Patos. Foram avaliados ainda os teores de carbono orgânico total (COT), nitrogênio total (NT), Cobre (Cu) e Zinco (Zn) do sedimento do viveiro de cultivo, da bacia de sedimentação e do estuário receptor dos efluentes. Foram avaliadas ainda as concentrações de Cu e Zn do tecido dos camarões cultivados ao final do ciclo produtivo. As amostras foram tomadas antes da descarga dos efluentes (AD) e; 1 dia (1 PD), 5 dias (5 PD), 10 dias (10 PD), 20 dias (20 PD), 30 dias (30 PD), 60 dias (60 PD) e 90 dias (90 PD) após a descarga dos efluentes. Vale ressaltar que cada estudo contou com um cronograma próprio e assim nem todas as análises citadas acima tiveram coletas em todas as datas mencionadas. Especificamente para a avaliação do macrozoobentos, um segundo ciclo de produção foi acompanhado para realização de amostragens. Os pontos de coleta no estuário distribuíram-se desde a desembocadura do canal de lançamento dos efluentes até uma distância de 250 m do mesmo. Dados de temperatura, oxigênio dissolvido, pH, salinidade, clorofila a, nitrogênio amoniacal total (NAT), nitrito, nitrato, fósforo total, sólidos suspensos totais e turbidez da água foram mensurados. Além da temperatura e salinidade que sofrem variações sazonais em ambientes estuarinos, NAT, clorofila a e turbidez foram os parâmetros de qualidade de água que sofreram alterações mais marcadas em decorrência do lançamento dos efluentes. No entanto, de maneira geral, essas alterações foram restritas a uma distância de até 20 m do canal de descarga dos efluentes por um período de tempo de no máximo 5 dias. Diatomáceas, cianobactérias, clorofíceas e ciliados foram identificados e quantificados. A comunidade predominante foi a de clorofíceas, seguido das diatomáceas, cianobactérias e ciliados. Houve um aumento na concentração dos diferentes grupos no primeiro dia pós-descarga (1 PD). Entretanto, esse aumento pode estar relacionado ao enriquecimento de nutrientes das águas estuarinas ocasionado por chuvas abundantes, e não propriamente ao despejo dos efluentes. A abundância meso-zooplanctônica foi baixa e representada exclusivamente por copépodos, na sua grande maioria da espécie Acartia tonsa. A única exceção foi a amostragem 30 PD que sofreu um acréscimo expressivo, sem no entanto apresentar relação com os parâmetros abióticos avaliados. Apesar de diferenças significativas (p < 0,05) terem sido observadas em algumas amostragens, essas não aparentam ter nenhuma relação com o lançamento dos efluentes. Sete grupos macrozoobentônicos foram observados (Polychaeta, Tanaidacea, Isopoda, Gastropoda, Bivalvia, Malacostraca e Ostracoda) ao longo de dois ciclos produtivos (2012 e 2013). A densidade e a riqueza de espécies sofreram pequena variabilidade ao longo dos pontos amostrais do estuário para ambas as etapas. Já ao longo do tempo, em 2012 pode-se observar um aumento desses índices no inverno comparativamente ao verão. Ao longo das coletas de 2013, a densidade do macrobentos teve um padrão oposto e a riqueza de espécies sofreu pouca variabilidade. A concentração de COT variou de 0,12 a 0,67% e a concentração de NT ficou abaixo do limite de detecção do equipamento (<0,1 ppm) em todos os locais e campanhas amostrais. Os teores de Cu e Zn no sedimento foram quantificados através de extração fraca (fração de metais lábeis ou potencialmente biodisponível) e extração semi-forte (fração de metais mais fortemente adsorvida). O Cu na fração lábil variou de 0,12 a 1,27 μg/g e o Zn variou de 0,52 a 3 μg/g, enquanto que a fração mais fortemente adsorvida de Cu variou de 0,3 a 2.65 μg/g e o Zn de 30,44 a 121,4 μg/g. Diferenças significativas (ANOVA, p < 0,05) foram observadas nos resultados de COT entre alguns pontos amostrais nas campanhas 1PD e 10PD, sem no entanto haver relação com o lançamento dos efluentes. A análise de correlação de Pearson não mostrou relação entre o lançamento dos efluentes e aumento nos valores de COT, NT, Cu ou Zn no sedimento, com exceção da relação encontrada entre os valores de COT e Cu e Zn no sedimento no primeiro dia pós-descarga (1 PD). Ao final do ciclo, exemplares de camarões coletados de dois viveiros de engorda revelaram concentrações médias de 6,63±0,2 μg/g de Cu e 19,76±0,2 μg/g de Zn no viveiro 1, e 7,6±0,51 μg/g de Cu e 19,13±0,32 μg/g de Zn no viveiro 2. Apesar de alguns parâmetros de qualidade de água terem sofrido variações em decorrência do lançamento dos efluentes, esses efeitos foram agudos e pontuais, restritos a uma distância de até 20m da margem e observados até os 5 dias após o descarte dos efluentes. Além disso, os valores ficaram dentro da faixa exigida pela Resolução ambiental vigente. O fitoplâncton, protozooplâncton, mesozooplâncton e o macrozoobentos sofreram apenas variações decorrentes das oscilações naturais dos parâmetros abióticos que ocorrem em sistemas estuarinos. Por fim, os teores de COT, NT, Cu e Zn no sedimento e Cu e Zn no tecido dos camarões ficaram dentro dos valores máximos estipulados na legislação, mostrando que o lançamento dos efluentes provenientes da produção de camarões no entorno do estuário da Lagoa dos Patos não trouxe efeitos adversos ao meio ambiente.

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