Elisa Cordeiro Andrade Prates (2021) Crescimento compensatório no camarão-branco do pacífico Litopenaeus vannamei (Boone, 1931), cultivado em diferentes temperaturas sob restrição alimentar em sistema de bioflocos

Crescimento compensatório no Camarão-Branco-do-Pacífico Litopenaeus vannamei (Boone, 1931), cultivado em diferentes temperaturas sob restrição alimentar em sistema de bioflocos

Autor: Elisa Cordeiro Andrade Prates (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Wilson Francisco Britto Wasielesky Junior
Co-orientador: Dr Jose Maria Monserrat
Co-orientadora: Drª Mariana Holanda

Resumo

O crescimento compensatório, o qual é definido como um processo fisiológico onde o organismo passa por uma fase de crescimento rápido após um período de desenvolvimento restrito, é uma estratégia desenvolvida por algumas espécies devido a frequentes situações de estresse no ambiente, havendo uma alocação de recursos entre manutenção, crescimento e reprodução. No contexto da aquicultura, a utilização da restrição alimentar e o cultivo em baixas temperaturas como um gatilho para o crescimento compensatório podem ser consideradas estratégias para redução de oferta de ração, dos custos e para o aumento do período de cultivo de espécies tropicais em regiões onde o cultivo restringe-se apenas ao verão. Além disso, o sistema BFT (Biofloc Technology System) pode também trazer vantagens ao cultivo, onde, além da redução do uso de água e maior biossegurança, a comunidade microbiana pode servir como fonte suplementar de alimento para os organismos 24 horas por dia, contribuindo também para a redução de alimento ofertado ao sistema. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a ocorrência do crescimento compensatório no camarão Litopenaeus vannamei, em três diferentes temperaturas (20, 24 e 28ºC) e sob restrição alimentar, cultivados em sistema de bioflocos, e analisar a dinâmica das reservas energéticas no hepatopâncreas e a condição imunológica dos organismos ao longo do período experimental. O experimento foi realizado durante 64 dias e dividido em duas etapas: (1) Restrição e (2) Recuperação, as quais tiveram duração de 36 e 28 dias, respectivamente. Inicialmente, juvenis de L. vannamei foram estocados com um peso médio de 1,78 g (±0,38 g), em densidade de 300 camarões/m2 (n=54). Na primeira fase, o experimento teve um desenho experimental fatorial (três temperaturas e dois regimes alimentares), totalizando seis tratamentos, que foram realizados em triplicatas. Três temperaturas foram escolhidas como ótima (28ºC), intermediária (24ºC) e baixa (20ºC) e, para cada temperatura, foram aplicados dois regimes alimentares: controle, onde os organismos receberam 100 % da taxa de arraçoamento previamente calculada; e restrição, a qual a taxa de alimentação ofertada foi de 40 % em relação aos tratamentos controle. Ao final da primeira fase (dia 36), todas as unidades experimentais (n=18) foram expostas as condições favoráveis de cultivo (28ºC e 100 % de taxa de alimentação) durante 28 dias. Para a determinação da concentração das reservas energéticas (proteínas totais, glicogênio e triglicerídeos) no hepatopâncreas e avaliação do estado de saúde dos animais, feita a partir da contagem diferencial de hemócitos (CDH), foram coletados três animais por unidade experimental ao início do experimento (dia 0), ao final da fase de restrição (dia 36) e ao final da fase de recuperação (dia 64). Ao final da primeira fase, os animais submetidos à restrição alimentar e mantidos a 24 e 28ºC apresentaram peso significativamente menor em comparação aos seus respectivos controles (P < 0,05), enquanto que os camarões mantidos à 20ºC (controle e restrição) apresentaram pesos similares entre si (P > 0,05). Além disso, os tratamentos em diferentes temperaturas e sem restrição alimentar, apresentaram pesos significativamente diferentes, onde o tratamento mantido a 20ºC apresentou menor taxa de crescimento, seguido pelos tratamentos de 24 e 28ºC, respectivamente. A concentração de proteínas totais no hepatopâncreas não foi afetada em nenhum tratamento (P > 0,05), enquanto que os níveis de triglicérides foram afetados nos tratamentos em restrição mantidos a 24 e 28ºC (P < 0,05), mas não em 20oC (P > 0,05). Já a concentração de glicogênio, foi menor e todos os tratamentos que sofreram restrição alimentar em relação aos seus controles (P < 0,05) e apresentou um efeito da temperatura, onde temperaturas mais baixas foram mais afetadas pela restrição. A CDH apresentou diferenças entre os tratamentos (P<0,05), mas todos os valores estavam dentro da faixa esperada para animais saudáveis cultivados em bioflocos. Após o fim do período de recuperação (dia 64), todos os tratamentos que haviam sofrido restrição na primeira fase, apresentaram pesos similares aos seus respectivos controles (P > 0,05). Em relação à temperatura, animais mantidos a 20 e 24ºC durante a primeira fase e alimentados ad libitum durante todo o experimento, não alcançaram o peso dos camarões mantidos em 28ºC durante todo o período experimental e sem restrição alimentar (P < 0,05). A concentração de proteínas totais não sofreu alteração em nenhum tratamento (P > 0,05) e os estoques de triglicerídeos foram recuperados nos tratamentos mantidos na primeira fase sob restrição em 20 e 24ºC, mas não em 28 ºC, o qual apresentou valores menores em relação ao seu controle (P < 0,05). Já a concentração de glicogênio, foi recuperada nos três tratamentos afetados anteriormente pelo período de restrição (P > 0,05). A CDH apresentou diferença entre tratamentos (P < 0,05), mas os valores se mantiveram dentro da faixa ideal para camarões cultivados em sistema de bioflocos. Dessa forma, pode-se concluir que os substratos utilizados para lidar com a restrição alimentar foram glicogênio e triglicerídeos, em detrimento da utilização de proteína. Em relação ao estado de saúde dos animais, as baixas temperaturas e a restrição alimentar não afetaram o sistema imunológico inato do camarão. Portanto, os resultados do presente trabalho mostraram que é possível submeter L. vannamei à restrição alimentar parcial, como um gatilho para o crescimento compensatório total, a fim de melhorar a eficiência alimentar dos animais e reduzir os custos de produção. Além disso, em regiões onde a baixa temperatura é um fator limitante para a produção, é viável explorar o crescimento compensatório parcial, com o objetivo de aumentar o período de cultivo anual.

TEXTO COMPLETO