Efeito do peróxido de hidrogênio na comunidade microbiana presente em sistemas de produção do camarão Litopenaeus vannamei com bioflocos
Autor: Ricardo Bessler König (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Paulo Cesar Oliveira Vergne de Abreu
Co-orientador: Dr Wilson Francisco Britto Wasielesky Junior
Resumo
A técnica de produção de organismos aquáticos sem renovação de água, com elevadas densidades de estocagem, forte aeração e biota predominantemente aeróbia e heterotrófica, formadora de agregados ou flocos microbianos, foi conhecida como ZEAH (“Zero Exchange Aerobic Heterotrophic culture systems”) e, mais recentemente, denominada como tecnologia de bioflocos (“Biofloc Technology” - BFT). Devido à presença de uma rica comunidade microbiana (microalgas, protozoários e alguns metazoários), os bioflocos apresentam elevados níveis nutricionais. Esta comunidade pode levar, também, ao consumo acelerado de oxigênio, levando rapidamente á morte do organismo produzido. Em casos de emergência causados pela falta de energia elétrica, ou defeito no sistema de aeração, os pesquisadores garantem a sobrevivência dos camarões durante a inoperância do sistema através da aplicação do peróxido de hidrogênio (H2O2). Entretanto, o H2O2, por ser uma molécula de carga neutra, tem facilidade de atravessar a membrana celular por difusão e, dentro das células, produz a peroxidação de lipídeos e proteínas, afetando a integridade celular. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da aplicação de peróxido de hidrogênio nos microrganismos presentes na criação de L. vannamei em meio BFT, caracterizar a comunidade de protozoários por microscopia óptica antes e após a aplicação de peróxido de hidrogênio e estimar o tempo de recuperação desta comunidade após o uso de peróxido por períodos crescentes. Para tal foram testados quatro tratamentos em 12 caixas de 45 L com uma densidade de 300 camarões por metro cúbico, que compunham o Controle, com aeração normal (sem aplicação de H2O2) e os tratamentos 12-horas, 24-horas e 48- horas, onde o peróxido (10μL H2O2 L-1) foi aplicado durante estes períodos sempre que necessário para manter os níveis de oxigênio dissolvido acima de 6 mg L-1. As médias de oxigênio dissolvido não diferiram significativamente, mas na sequência de aplicações podemos identificar algumas variações pontuais. As médias dos parâmetros de qualidade da água foram significativamente diferentes entre o Controle e os demais tratamentos. Os sólidos suspensos totais (SST) foram significativamente maiores no tratamento 12-horas do que nos demais. Verificou-se que a adição de H2O2 afetou o processo de nitrificação no sistema BFT e indiretamente afetou os camarões, resultando em um menor desempenho no crescimento e ganho de peso nos tratamentos onde se adicionou peróxido de hidrogênio. Verificou-se, ainda, que houve uma rápida recuperação das bactérias amônio-oxidantes, mas não das nitrito-oxidantes. O fitoplâncton presente no meio de cultivo resistiu bem à aplicação de H2O2, havendo algum efeito somente sobre a Clorofícea Planctonema sp., onde o controle apresentou maiores abundâncias do que nos tratamentos 24-horas e 48-horas. Após isso ocorreu uma diminuição em sua abundância provavelmente devido à baixa luminosidade causada pela alta concentração de SST. Conclui-se que a adição de peróxido de hidrogênio causa um dano temporário aos microrganismos, especialmente as bactérias nitrificantes, mas este é parcialmente revertido em poucos dias após cessar a aplicação deste elemento. Também não se verificou um efeito acumulativo com a aplicação de peróxido por um tempo maior.