Ricardo Bessler König (2014) Efeito do peróxido de hidrogênio na comunidade microbiana presente em sistemas de produção do camarão Litopenaeus vannamei com bioflocos

Efeito do peróxido de hidrogênio na comunidade microbiana presente em sistemas de produção do camarão Litopenaeus vannamei com bioflocos

Autor: Ricardo Bessler König (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Paulo Cesar Oliveira Vergne de Abreu
Co-orientador: Dr Wilson Francisco Britto Wasielesky Junior

Resumo

A técnica de produção de organismos aquáticos sem renovação de água, com elevadas densidades de estocagem, forte aeração e biota predominantemente aeróbia e heterotrófica, formadora de agregados ou flocos microbianos, foi conhecida como ZEAH (“Zero Exchange Aerobic Heterotrophic culture systems”) e, mais recentemente, denominada como tecnologia de bioflocos (“Biofloc Technology” - BFT). Devido à presença de uma rica comunidade microbiana (microalgas, protozoários e alguns metazoários), os bioflocos apresentam elevados níveis nutricionais. Esta comunidade pode levar, também, ao consumo acelerado de oxigênio, levando rapidamente á morte do organismo produzido. Em casos de emergência causados pela falta de energia elétrica, ou defeito no sistema de aeração, os pesquisadores garantem a sobrevivência dos camarões durante a inoperância do sistema através da aplicação do peróxido de hidrogênio (H2O2). Entretanto, o H2O2, por ser uma molécula de carga neutra, tem facilidade de atravessar a membrana celular por difusão e, dentro das células, produz a peroxidação de lipídeos e proteínas, afetando a integridade celular. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da aplicação de peróxido de hidrogênio nos microrganismos presentes na criação de L. vannamei em meio BFT, caracterizar a comunidade de protozoários por microscopia óptica antes e após a aplicação de peróxido de hidrogênio e estimar o tempo de recuperação desta comunidade após o uso de peróxido por períodos crescentes. Para tal foram testados quatro tratamentos em 12 caixas de 45 L com uma densidade de 300 camarões por metro cúbico, que compunham o Controle, com aeração normal (sem aplicação de H2O2) e os tratamentos 12-horas, 24-horas e 48- horas, onde o peróxido (10μL H2O2 L-1) foi aplicado durante estes períodos sempre que necessário para manter os níveis de oxigênio dissolvido acima de 6 mg L-1. As médias de oxigênio dissolvido não diferiram significativamente, mas na sequência de aplicações podemos identificar algumas variações pontuais. As médias dos parâmetros de qualidade da água foram significativamente diferentes entre o Controle e os demais tratamentos. Os sólidos suspensos totais (SST) foram significativamente maiores no tratamento 12-horas do que nos demais. Verificou-se que a adição de H2O2 afetou o processo de nitrificação no sistema BFT e indiretamente afetou os camarões, resultando em um menor desempenho no crescimento e ganho de peso nos tratamentos onde se adicionou peróxido de hidrogênio. Verificou-se, ainda, que houve uma rápida recuperação das bactérias amônio-oxidantes, mas não das nitrito-oxidantes. O fitoplâncton presente no meio de cultivo resistiu bem à aplicação de H2O2, havendo algum efeito somente sobre a Clorofícea Planctonema sp., onde o controle apresentou maiores abundâncias do que nos tratamentos 24-horas e 48-horas. Após isso ocorreu uma diminuição em sua abundância provavelmente devido à baixa luminosidade causada pela alta concentração de SST. Conclui-se que a adição de peróxido de hidrogênio causa um dano temporário aos microrganismos, especialmente as bactérias nitrificantes, mas este é parcialmente revertido em poucos dias após cessar a aplicação deste elemento. Também não se verificou um efeito acumulativo com a aplicação de peróxido por um tempo maior.

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