Gabriele Rodrigues de Lara (2016) Manejo alimentar de Litopenaeus vannamei cultivado em sistema de bioflocos: efeitos da restrição alimentar e diferentes taxas de arraçoamento sobre os parâmetros zootécnicos

Manejo alimentar de Litopenaeus vannamei cultivado em sistema de bioflocos: efeitos da restrição alimentar e diferentes taxas de arraçoamento sobre os parâmetros zootécnicos

Autor: Gabriele Rodrigues de Lara (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Wilson Francisco Britto Wasielesky Junior
Co-orientador: Dr Luis Henrique da Silva Poersch

Resumo

O alimento artificial é um dos principais gastos nos cultivos intensivos de camarão ao redor do mundo. No cultivo em sistema de bioflocos, a comunidade microbiana pode ser uma fonte suplementar de alimento, levando a uma possível redução nas quantidades de ração a serem adicionadas ao sistema. No entanto, não se sabe ao certo o quanto de ração pode ser economizado e se a utilização de diferentes técnicas de manejo alimentar pode contribuir para uma redução ainda maior nas quantidades de ração a serem ofertadas aos animais cultivados. Dessa forma, foram delineados quatro experimentos utilizando diferentes taxas de arraçoamento e diferentes técnicas de manejo alimentar a fim de se observar se os bioflocos podem contribuir com a redução das taxas de arraçoamento e como a restrição alimentar pode influenciar nos parâmetros de crescimento e sobrevivência de Litopenaeus vannamei cultivado em sistema de bioflocos. As taxas de arraçoamento de todos os experimentos foram calculadas considerando um crescimento semanal esperado de 1 g/semana e uma mortalidade estimada de 0,5%/semana. Nos experimentos 1, 2 e 4, cada tratamento correspondeu a uma taxa de arraçoamento diferente e cada uma dessas taxas correspondeu a uma taxa de conversão alimentar fixa. No terceiro capítulo a taxa de arraçoamento foi calculada utilizando uma taxa de conversão alimentar fixa de 1,45. Os experimentos foram realizados em tanques de 150 L, com densidades de estocagem entre 300 e 400 camarões/m3. O primeiro experimento teve como objetivo avaliar a utilização de diferentes taxas de arraçoamento durante um ciclo de cultivo de 60 dias de L. vannamei em sistema de bioflocos. Os tratamentos testados foram: T0 (sem adição de ração), T0.4, T0.8, T1.2, T1.6 e T2.0. O peso final (g) foi menor em T0 (P < 0.05), seguido por T0.4, T0.8 e T1.2 (P < 0.05), não apresentando diferenças entre T1.6 e T2.0 (P > 0.05). O tratamento sem adição de ração apresentou a menor sobrevivência (P < 0.05) e todos os outros tratamentos tiveram sobrevivências acima de 80%, sem diferenças estatísticas entre eles (P > 0.05). Os camarões podem sobreviver por longos períodos no sistema de bioflocos com quantidade reduzida de alimento artificial (T0.4). Como não houve diferenças entre o T1.6 e T2.0, pode-se concluir que não há necessidade de se aumentar as taxas de arraçoamento a esse nível no cultivo de bioflocos, economizando cerca de 25% do total de ração a ser adicionado. O segundo estudo teve por objetivo analisar os efeitos de diferentes taxas de arraçoamento e posterior re-alimentação no cultivo de camarões em sistema BFT. A primeira fase do estudo (restrição alimentar) durou 21 dias, e os seguintes tratamentos foram testados: T0 (sem adição de ração), T0.3, T0.6, T0.9, T1.2, T1.5, T1.8 e T2.1. Na segunda fase (realimentação), as taxas de arraçoamento foram baseadas em uma taxa de conversão fixa de 1,45. Ao final da restrição alimentar, os tratamentos T0, T0.3 e T0.6 apresentaram os menores pesos finais (P < 0.05). A sobrevivência foi baixa somente em T0 nas duas fases do experimento. Na segunda fase, os tratamentos T0, T0.3 e T0.6 apresentaram crescimento compensatório parcial. O estudo indica que esta técnica de manejo permite uma economia de até 24,79% da ração a ser adicionada no cultivo. O terceiro estudo avaliou diferentes períodos cíclicos de jejum e realimentação. Cinco tratamentos foram testados: Controle, em que os animais foram alimentados diariamente; F5S2, 5 dias de alimentação seguidos por 2 dias sem receber ração, F3S4, 3 dias de alimentação seguidos por 4 dias sem receber ração, e F5S2-R e F3S4-R em que os dias de alimentação eram os mesmos citados acima, porém com redução das quantidades de alimento de acordo apenas com os dias em que eram alimentados. Ao final do estudo, os camarões dos tratamentos F5S2 e F5S2-R não apresentaram diferenças significativas comparados ao controle para sobrevivência, biomassa final, taxa de crescimento específico, taxa de conversão alimentar e produtividade (P > 0.05) e indicam crescimento compensatório completo, sendo justificado pelo aumento do consumo alimentar. O quarto experimento analisou a utilização de biofilme na redução das taxas de arraçoamento. Os tratamentos testados foram: T0 e T0+B (sem adição de ração, com e sem biofilme, respectivamente), T0.6 e T0.6+B, T1.2 e T1.2+B, T1.8 e T1.8+B. O estudo teve duração de 42 dias. Ao final do experimento, os camarões que foram cultivados sem adição de ração apresentaram os menores pesos finais e sobrevivências, independente da utilização de biofilme (P < 0.05). O tratamento T1.2+B não apresentou diferenças significativas entre T1.2, T1.8 e T1.8+B para os parâmetros de crescimento e alimentação. Os resultados permitem concluir que a presença de biofilme no tratamento T1.2+B representou uma economia de 35% do total de ração a ser oferecido. De acordo com os resultados obtidos na presente tese, pode-se concluir que a comunidade microbiana do sistema de bioflocos pode representar uma importante fonte suplementar de alimento, reduzindo custos de operação e melhorando a sustentabilidade do sistema de cultivo.

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