Inclusão de subproduto de uva (Vitis sp) como alimento alternativo na dieta para juvenis de tainha Mugil liza
Autora: Cybele (Currículo Lattes)
Orientador:
Resumo
Este estudo investigou a utilização de diferentes subprodutos oriundos do processamento
da uva (Vitis sp.) em rações para juvenis da tainha Mugil liza. O estudo foi dividido em
um capítulo de revisão e três ensaios experimentais. O experimento I (Capítulo II),
determinou a inclusão da farinha do bagaço fermentado da uva (FerGP 0; 2,5; 5; 10 e 15
%) e seu efeito nos parâmetros de crescimento, peroxidação lipídica hepática e
hematologia dos animais. Um total de 225 peixes (0,57 ± 0,01 g) foram distribuídos
aleatoriamente em 15 tanques em sistema de recirculação e alimentados ad libitum três
vezes ao dia durante 65 dias. A inclusão de diferentes níveis de farinha de bagaço
fermentado de uva (FerGP) não promoveu diferenças significativas nos parâmetros
zootécnicos gerais (p > 0,05), embora a taxa de crescimento específico (TCE, %) tenha
apresentado resposta quadrática (p = 0,039), com melhor desempenho estimado próximo
à inclusão de FerGP 5 %. Os teores de extrato etéreo, matéria mineral e umidade da
carcaça apresentaram diferença significativa (p < 0,05), com aumento do EE % em função
da inclusão crescente de FerGP. Parâmetros hematológicos não foram afetados pelas
dietas (p > 0,05). No entanto, os níveis de peroxidação lipídica (TBARS) no fígado
apresentaram redução linear significativa com o aumento da inclusão de FerGP (p < 0,05),
indicando menor peroxidação lipídica hepática. A inclusão de até 15 % de FerGP pode
ser utilizada na dieta sem prejuízos ao desempenho dos animais. Experimento II (Capítulo
III) avaliou os efeitos da inclusão de farinha de engaço de uva (GSt – 0, 2,5, 5, 10 e 15%)
na dieta de juvenis de tainha (Mugil liza) ao longo de 65 dias de cultivo, sob condições
ambientais estáveis. Foram observadas diferenças significativas (p < 0,05) nos parâmetros
zootécnicos, incluindo peso final, ganho de peso, taxa de crescimento específico (TCE,
%), taxa de retenção proteica (TRP, %) e taxa de retenção lipídica (TRL, %). O peso final
e o ganho de peso reduziram com a inclusão de GSt, especialmente nos grupos 5 % e 10
%, em comparação ao controle (0 %). A TCE diferiu entre as dietas GSt 0 e 2,5 % em
relação à 10 % e apresentou ajuste quadrático significativo (r² = 0,69; p < 0,001), com
tendência de redução nos níveis mais elevados de inclusão. A conversão alimentar,
entretanto, não diferiu entre os tratamentos. Na composição proximal da carcaça,
observaram-se diferenças em proteína bruta (PB, %), extrato etéreo (EE, %) e matéria
mineral (MM, %). A dieta com 2,5 % de GSt apresentou menores valores de PB e TRP
em relação às demais, enquanto EE e MM aumentaram com a inclusão de GSt,
diferenciando-se do controle. Em relação ao perfil hematológico, a inclusão de GSt
reduziu significativamente as contagens de linfócitos, monócitos e granulócitos, sem
efeitos sobre os eritrócitos. Os parâmetros hepáticos, avaliados por TBARS e capacidade
antioxidante total (ACAP), não apresentaram diferenças significativas entre os
tratamentos. De modo geral, a inclusão de até 15% de GSt não comprometeu o
crescimento, o equilíbrio hematológico e o estado oxidativo dos peixes, indicando que o
engaço de uva pode ser utilizado como ingrediente alternativo em dietas para a
piscicultura marinha. O Experimento III (Capítulo IV) investigou os efeitos da inclusão
de diferentes níveis de farinha de semente de uva (GSd – 0, 2,5, 5, 10 e 15 %) na dieta de
juvenis de tainha (Mugil liza) durante 65 dias de cultivo. Os parâmetros de qualidade da
água permaneceram estáveis ao longo do ensaio. No desempenho zootécnico, não foram
observadas diferenças significativas (p > 0,05), exceto para a conversão alimentar (CA),
cujo valor mais elevado foi registrado com 10 % de GSd (2,28) em comparação aos
tratamentos 0, 2,5 e 5 %. Entre os índices somáticos, apenas o índice gastrossomático
(IGaS) apresentou diferença significativa, com maiores valores nas dietas contendo GSd.
Na avaliação hematológica, a contagem de monócitos foi menor em 2,5 % de GSd,
enquanto a de granulócitos foi superior nesse mesmo tratamento. Os níveis de TBARS no
fígado apresentaram diferenças significativas (p < 0,05) nos tratamentos com 2,5, 5 e 10
% de GSd, enquanto a ACAP não apresentou variação estatística entre os grupos. A
análise histológica indicou parênquima hepático preservado em todos os tratamentos,
além de vilosidades longas, células absortivas, células caliciformes e tecido conjuntivo
bem estruturado no intestino proximal. De forma geral, os resultados sugerem que a
inclusão de GSd até 15% na dieta de juvenis de tainha pode ser realizada sem prejuízos
ao desempenho zootécnico, além de indicar potenciais efeitos benéficos sobre o status
oxidativo hepático.