Adriana Martins Guedes de Azevedo (2015) Avaliação da efetividade da criação de marismas pelo plantio de gramíneas bioengenheiras do gênero Spartina no estuário da Lagoa dos Patos, RS, Brasil

Avaliação da efetividade da criação de marismas pelo plantio de gramíneas bioengenheiras do gênero Spartina no estuário da Lagoa dos Patos, RS, Brasil

Autor: Adriana Martins Guedes de Azevedo (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Cesar Serra Bonifácio Costa

Resumo

Entre as plantas aquáticas vasculares de ambientes salinizados, as plantas de marismas (banhados costeiros salinizados na zona entremarés) são as mais cultivadas e plantadas pelo homem, particularmente com a finalidade do estabelecimento de barreiras naturais contra a erosão costeira e recuperação de áreas degradadas.Tolerantes a variações de salinidade, submersão periódica e condições hipóxicas do solo, elas são capazes de construir seu próprio ambiente formando estruturas biogênicas. A eficiência das marismas criadas em reproduzir os atributos estruturais e funcionais de marismas naturais ainda é questionada, particularmente se processos autogênicos são capazes de manter o desenvolvimento das marismas sob alta intensidade de forçantes alogênicos. Esta tese visou avaliar a estruturação temporal de marismas criadas através do plantio das gramíneas bioengenheiras nativas Spartina alterniflora e Spartina densiflora em um estuário micromareal, através da quantificação do processo autogênico e seu relacionamento com a disponibilidade de N e P, heterogeneidade ambiental estuarina e forçantes regionais. No Capítulo I, dois experimentos foram realizados em estufa agrícola para avaliar os efeitos da densidade de plantio e disponibilidade dos nutrientes N e P no desenvolvimento de mudas das gramíneas S. alterniflora e S. densiflora. Sob alta disponibilidade de nutrientes plantas de S. alterniflora tiveram sua produção foliar estimulada e produziram o dobro do número de hastes do que plantas não fertilizadas. Densidades iniciais de 400 ou mais hastes m-2 resultaram em alongamento vertical excessivo das hastes de S. alterniflora (cerca de 100 cm de altura). A adubação com razão 2N:1P resultou em melhor perfilhamento de ambas espécies. O Capítulo II descreve as similaridades e diferenças nas características estruturais de marismas criadas pelo plantio de gramíneas bioengenheiras e marismas naturais de referência, amostradas em 4 localidades no estuário da Lagoa do Patos (RS) durante o verão- outono 2012. Doze espécies de 8 famílias de angiospermas foram encontradas em 597 quadrados (0,5 X 0,5 m) observados. Todas marismas revelaram a presença de S. alterniflora nos pisos entremarés baixos e marismas maduras exibiram de 3 a 7 espécies. Análises de Agrupamento e de Correspondência, conforme a matriz de correlação das coberturas visuais, diferenciou as marismas maduras da maioria das marismas criadas e jovens. As marismas amostradas distribuíram-se entre -0,28 m e +0,91 m NML (nível médio da lagoa) e eram sujeitas a frequências de alagamento de 8,0 a 83,8% do tempo. As marismas maduras foram mais altas no entremarés do que as marismas criadas e jovens locais, bem como possuíam maiores teores de matéria orgânica (até 26,43%) e argilas (até 50%) no sedimento, além de menores teores de fosfato na água intersticial. Os resultados sugerem forte soerguimento orgânico e alto consumo de fósforo pela grande biomassa vegetal presente nas marismas maduras. A posição baixa no entremarés das marismas criadas dificulta o desenvolvimento de seus solos (baixos teores de finos e matéria orgânica) e resulta em redoxs positivos, devido ao batimento de ondas. Soerguimento orgânico (4-5% matéria orgânica), baixos redoxs (até -428 mV) e altos teores de N e P distinguem a parte mais continental de marismas jovens na enseada eutrofizada Saco da Mangueira de suas áreas baixas no entremarés e das marismas criadas. Maiores formações de biomassas aéreas nestes pisos altos das marismas jovens é possível pela maior disponibilidade de P em condições reduzidas. O Capítulo III faz uma avaliação dos papéis dos processos autogênicos e alogênicos no desenvolvimento de uma marisma criada pelo plantio de S. alterniflora ao longo de 3 anos (2012-2015). O desenvolvimento da marisma progrediu de forma autogênica, apesar de oscilações interanuais sequenciais de baixa vazão e de excessiva vazão associadas, respectivamente, a eventos de moderada intensidades de La Niña e de El Niño. Os blocos de plantio foram alagados 32,9-51,5% do tempo por águas com salinidade média de 23-26 em 2012, por 61,9-69,5% do tempo por água oligohalinas (< 5) em 2014. Em 2012, o sedimento arenoso do plano entremarés possuía menos de 7% finos, acumulando até 2015 altos teores médios de argilas (21,9 ± 10,9%) e matéria orgânica (14,7 ± 4,6%). A biomassa vegetal na marisma criada cresceu até valores máximos no segundo ano após o plantio (respectivamente, aérea= 1325-1364 g/m2 e subterrânea= 799-810 g/m2). As concentrações dos nutrientes intersticiais nos blocos de plantio refletiram o vigor da alteração autogênica, ocorrendo redução dos teores de fosfato na água intersticial possivelmente relacionados ao consumo pela vegetação, aeração da rizosfera pelas plantas e/ou soerguimento orgânico da marisma, com consequente aumento do potencial redox. O papel autogênico no desenvolvimento estrutural da marisma criada parece ser suportado pela alta disponibilidade de nutrientes nas águas superficiais e intersticiais do Saco da Mangueira.

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