Ananda Duarte Arrieta (2018) O uso da halófita Sarcocornia ambigua (Michx.) M.A.Alonso & M.B.Crespo para fitorremediação de Tributilestanho (TBT) em sedimentos costeiros

O uso da halófita Sarcocornia ambigua (Michx.) M.A.Alonso & M.B.Crespo para fitorremediação de Tributilestanho (TBT) em sedimentos costeiros

Autor: Ananda Duarte Arrieta  (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Cesar Serra Bonifácio Costa
Co-orientador: Dr Gilberto Filmann

Resumo

O Tributilestanho (TBT) é um composto organoestânico que, durante muitos anos, foi utilizado como principal ingrediente ativo com função biocida na formulação de tintas anti-incrustantes. Diversos estudos associaram seu uso a desequilíbrios metabólicos em distintos grupos de animais. Apesar de este composto ter sido banido, a nível mundial, da formulação de tintas anti-incrustantes pela Organização Marítima Internacional em 2008, concentrações significativas de TBT e seus produtos de degradação, dibutilestanho (DBT) e monobutilestanho (MBT), ainda podem ser encontradas em regiões portuárias e ambientes estuarinos costeiros, inclusive no Brasil. A toxicidade deste composto é pouco descrita para o reino vegetal, principalmente quando se trata de plantas costeiras. Algumas plantas crescem em áreas contaminadas e talvez possam ser utilizadas para aumentar o processo de remediação dos compostos organoestânicos em sedimentos costeiros. Sarcocornia ambigua (Michx.) M.A.Alonso & M.B.Crespo (Amaranthaceae) é uma halófita com ampla distribuição em marismas e manguezais da costa brasileira, e também possível agente de fitorremediação do TBT. O objetivo deste trabalho foi avaliar a capacidade de S. ambiguade tolerar e descontaminar sedimentos com diferentes concentrações de TBT. Mudas de S. ambigua foram cultivadas durante 78 dias em vasos com sedimentos sem contaminação (controle; n = 15) e contaminados com duas concentrações de TBT (nível baixo: 67,4 ± 7,5 ngSn.g-1; nível alto 499,8 ± 52,1 ngSn.g-1; média ± erro padrão; n = 15 vasos por nível de tratamento). Um grupo adicional de vasos com sedimento, mas sem plantas, foi submetido aos mesmos níveis de contaminação de TBT e também monitorado. O desempenho fitotécnico foi acompanhado através de análises biométricas de altura do caule principal, número de ramificações e comprimento da maior ramificação em três tempos amostrais (0, 53 e 78 dias). Sedimentos contaminados e controle dos vasos com plantas e sem plantas foram coletados no mesmo período amostral, sendo os organoestânicos presentes identificados e quantificados. Todas as plantas expostas aos dois níveis de TBT sobreviveram e cresceram vigorosamente, não ocorrendo diferenças significativas dos parâmetros fitotécnicos em relação às plantas controle. Independente da presença ou ausência de S. ambigua, a degradação de TBT em seus metabólicos (DBT e MBT) foi observada logo após a fortificação dos sedimentos, no início do experimento (6-20% do total de organoestânicos; OTs), e aumentou marcadamente ao longo dos primeiros 53 dias (até 42% dos OTs), tanto no nível alto quanto no nível baixo de contaminação. No nível alto de contaminação, a presença de S. ambigua aumentou significativamente a degradação de organoestânicos nos últimos 25 dias do experimento. Ao final dos 78 dias de cultivo, o valor médio de TBT nos sedimentos vegetados (142 ngSn.g-1) foi 55,6% menor e significativamente diferente do valor médio nos sedimentos não vegetados (320 ngSn.g-1). Adicionalmente, nesta data, a concentração média de OTs em sedimentos vegetados reduziu a 56,2% do valor do primeiro dia do experimento, enquanto em sedimentos não vegetados esta redução foi de apenas 13,1%. Consequentemente, a presença das plantas resultou também na redução das concentrações dos metabólitos DBT e MBT, o que pode ter acontecido por alterações induzidas pela planta nas características físico-químicas e/ou microrganismos no sedimento, ou mesmo por incorporação do contaminante na matriz vegetal. A halófita S. ambigua demonstrou tolerância à concentrações de organoestânicos que são potencialmente capazes de acarretar efeitos adversos à biota, encontradas em sedimentos de estuários brasileiros. Esta planta foi capaz de potencializar a degradação do TBT, mostrando-se um possível agente de fitorremediação de organoestânicos.

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